No século passado, sobretudo após a descolonização e tomando como referência esses espaços, começou-se a referir e a estudar o conhecimento “endógeno”, “indígena”, “subjugado”, muitas vezes tão-somente designado “saber-fazer”. Nos países mais desenvolvidos estas problemáticas eram sistematicamente ignoradas e apesar de Michael Polanyi ter teorizado em 1966 o conhecimento tácito, foi preciso esperar pelos anos noventa do século passado, para ele ser mais frequentemente reconhecido, apesar de pouco considerado pelos investigadores, gestores e políticos. Hoje estes conceitos vão ganhando cidadania epistemológica.
Os investigadores de diferentes ciências vão descobrindo a importância da diversidade de conhecimentos trazidos pelas mais diversas culturas ao longo dos tempos, contribuindo deste modo positivamente para novas descobertas e relativizando os conhecimentos científicos nascidos na cultura greco-latina, judaico-cristã.
Para alguns, os mais ligados ao mundo empresarial o aproveitamento desta forma de conhecimento começa a fazer parte da estratégia de inovação e concorrência. Para outros pode traduzir o abusivo registo de patentes de conhecimentos e práticas que constituíram o património milenar dos povos. Para outros ainda começa a entrar no campo de atenção da investigação do qual se conhece ainda pouco.
Importa conhecer esta realidade, as suas formas de manifestação, a sua importância na vida quotidiana dos povos, as suas tendências de evolução neste mundo que tende para a uniformização.
Os conhecimentos endógenos assumem particular visibilidade, importância e significado político em momentos de ruptura, em momentos de transformação profunda da sociedade.
Os processos de independência em África representaram momentos de exaltação das capacidades endógenas, de valorização destes recursos, tornando-se um campo fértil para a construção do futuro.
Os conhecimentos endógenos e a multiplicidade de campos em que se manifestam na construção do futuro em África levam-nos a olhar para a sua importância na educação, na preservação de línguas existentes, na medicina, na agricultura, na economia, nas diversas manifestações culturais, outras.
A importância desta conferência é, pois, central para aprofundar e alargar o debate deste tema transversal e multidisciplinar em todas as suas dimensões. O interesse científico da reunião é enorme pois o trabalho sobre conhecimentos endógenos em Portugal é diminuto e disperso. Em África verifica-se uma grande assimetria, havendo países onde esta temática está profundamente avançada e outros onde está a dar os primeiros passos. A reunião de um grande grupo de investigadores de diversas origens proporcionará, assim, as condições ideais para o debate e troca de ideias entre os participantes criando uma excelente oportunidade para a criação de uma rede internacional e multidisciplinar dedicada a este tema, construindo novas parcerias e sinergias que enriquecerão a investigação.
No entanto, sendo uma conferência de natureza científica, pela relevância do tema e a sua importância nas questões associadas ao desenvolvimento, pretende-se que a discussão seja alargada a vários sectores, nomeadamente ao da Cooperação e ao Empresarial, por forma a enriquecer a reflexão e a explorar as leituras possíveis sobre a forma como os diferentes países africanos são capazes de garantir a construção do seu futuro em todas as dimensões.
Neste sentido é também um objectivo importante criar pontes entre o conhecimento e a reflexão científica e outros sectores da sociedade para os quais os conhecimentos endógenos assumem um carácter fundamental nas suas actividades e práticas.
A Conferência Internacional “Conhecimentos Endógenos e a Construção do Futuro em África” realiza-se nos dias 15 e 16 de Abril 2011, na Fundação Engº António de Almeida, no Porto. A conferência terá entrada livre, aberta a todos os que se interessem pelo tema. A conferência inaugural do Prof. Paulin J. Hountondji (filósofo do Benin) é no dia 15 às 10h45.
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